22 de julho de 2010

A Rodinha Quebrada

Uma senhora idosa andava por uma estrada asfaltada, empurrava um carrinho de bebê contendo uma sacola velha cheia de bugigangas, a sua caminhada era notória pois a velhinha blasfemava e reclamava com alguns motoristas que haviam estacionado na calçada de frente a um borracheiro.

A velhinha mal vestida, apresentava os dentes podres , a pele seca com muitas rugas tornava o seu semblante amedrontador, quem visse a pequena figura sentira-se intimidado por suas palavras e por sua fisionomia mal acabada.

Posteriormente a velhinha retorna chorando, as pessoas não entendiam as suas palavras até que ela para diante do motorista que ela mais ofendeu , pois segundo ela o mesmo havia atrapalhado a sua trajetória na calçada.

O rapaz ouve a sua queixa e entende ser fácil resolver o problema, pois a rodinha do seu carrinho estava desfrenada e saiu do eixo, o rapaz desajeitado pega a roda suja de terra e tenta agradar a velhinha prontamente, arruma a ferramenta necessária com alguns presentes no local e enquanto arruma a rodinha ouve a velhinha falar de sua vida e seus problemas.

A velhinha demonstrou ser alguém de situação financeira não tão precária quanto a apresentada por suas vestimentas rotas e sujas, mas alguém que futuramente compraria um carrinho melhor e daria este aos pobres, segundo ela possuía uma casa alugada que o inquilino estava em atraso com o aluguel, mas quando a sua filha chegasse de viagem do norte , ela iria resolver o seu problema.

A rodinha foi concertada, a velhinha continuou a sua caminhada empurrando o carrinho de bebê e metralhando as suas ofensas para as pessoas que encontrava pelo caminho.

Gostaria de meditar no estilo de vida que projeta uma realidade que não representa a real, vivemos um sonho, entramos em uma situação fantasiosa pois se recobrarmos a realidade, não poderemos conviver com a nossa identidade e por isto optamos por empurrar um carrinho de bebê , carregando um estilo de vida que gostaríamos de ter ou quem sabe já possuímos no passado, mas que em nosso presente é apenas um sonho que nos acorda a cada manhã e nos faz caminhar pela vida até o momento que voltamos a nossa realidade, quando somos interrompidos em nossa caminhada por uma rodinha quebrada.

A velhinha não percebia que em função de seu sonho estava ofendendo a todos que não faziam parte da sua realidade, pois de certa forma ela culpava a todos que se intrometiam em seu caminho, não procurava contornar os obstáculos, mas sim ofender quem quer que fosse que estivesse no sentido contrário da sua trajetória.

A velhinha não ofendia as pessoas ,mas as situações, pois ao retornar pedindo socorro não percebeu que instantes atrás havia ofendido o mesmo rapaz que agora pedia ajuda; ela não ofendeu o rapaz mas a uma pessoa que atrapalhou a sua trajetória enquanto carregava o seu sonho. Algumas pessoas são determinadas em caminhar e não importa a situação contrária , ela não se inclina e luta pelos seus ideais , mesmo se com isto chegue aos extremos, estas pessoas às vezes passam por loucas ou como se não tivessem vergonha na cara, pois agora ofendem e depois estão pedindo ajuda!

Estas pessoas aprendem na pele a lei da semeadura, pois aquilo que plantamos certamente colheremos na estação própria, planta-se vento , colhe-se tempestade; mas às vezes colhemos amor e não valorizamos aqueles que concertam as nossas rodinhas quebradas, pois aprendemos a quebrar sempre a rodinha e encontrar alguém que se compadece das nossas lágrimas e nos ajuda a retornar a nossa caminhada.

O muito obrigado não faz parte do vocabulário destas pessoas, continuarão xingando e blasfemando com tanta intensidade quanto choram e pedem ajuda nos momentos de necessidade. A percepção da nossa realidade é importante para darmos início ao processo de cura, pois não adianta esperar que a filha volte, quando no tempo que tivemos o controle sobre ela, não tratamos do seu coração, se assim fosse não seríamos eliminados da sua história sem possibilidade de reconciliação, pais às vezes criam os filhos pensando em como no futuro poderão recuperar este investimento, mas não chegam a conclusão que nunca deram para os filhos o de mais importante: amor que não impõe condições.

Apenas amamos, pois como pais não podemos sentir diferentes, são frutos da nossa carne, são frutos do nosso relacionamento, são frutos dos nossos sonhos diante de Deus. O tempo passa e passamos a viver pelo futuro dos filhos, não compramos mais as coisas para nós mesmos, mas para agradar a eles, comemos em função do paladar dos nossos filhos e temos o nosso dia a dia limitado a sua agenda, um dia os nossos filhos crescem e seguem o seu próprio destino e ficamos perplexos quando não voltam mais a nos procurar.

Filhos que são criados como filhos encontram segurança nos seus pais, tornam-se amigos e confidentes sem deixar de existir o respeito entre ambos, pois os pais sempre ensinarão o melhor caminho para os filhos, pois eles tramitaram o melhor caminho, antes de exigir estes pais foram exemplos, antes de determinar estes pais foram experimentados na abnegação.

Precisamos aprender que todo relacionamento deve ser limitado pelo direito do outro, somos impulsionados a ser melhor que o outro mas precisamos aprender a cooperar para o seu sucesso quando zelamos por sua imagem. A auto-estima elevada nos torna arrogantes e auto-suficientes criando uma identidade super poderosa que cedo ou tarde encontrará em seu caminho um espelho que chocará com a imagem refletida: um ser odiado e solitário.


Às vezes uma rodinha quebrada permite que nos defrontemos com pessoas que já cruzaram a nossa caminhada, precisamos refletir se continuaremos caminhando , senhores da situação ou se aprenderemos a dialogar com aqueles que persistem em fazer o bem apesar da nossa intransigência. Precisamos refletir sobre a nossa culpa antes de projetarmos nas situações decorrentes da nossa inconseqüência, o peso que nos angustia a cada manhã.precisamos aprender a culpar menos ou diabo , ou exigir soluções da parte de deus, quando o assunto faz referência a fórum intimo e pessoal: remova a pedra do lugar.

Aquilo que compete a nós homens fazer não se pode esperar solução da parte de Deus, portanto precisamos antes de tudo olhar para o nosso passado e assumir a nossa responsabilidade, clamando a Deus misericórdia para que aquilo que se fez torto possa ainda endireitar, pois em certo momento da trajetória podemos descobrir que apesar do nosso arrependimento, não poderemos mudar jamais as pessoas que um dia tentaram nos ajudar a concertar as nossas rodinhas.

 
Autor: Carlos Siqueira


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