30 de julho de 2011

Mensagem - COMO OS CAMPOS

COMO OS CAMPOSMARINA COLASANTI
Preparavam-se aqueles jovens estudiosos para a vida adulta, acompanhando um sábio e ouvindo seus ensinamentos.
Porém, como fizesse cada dia mais frio com o adiantar-se do outono, dele se aproximaram e perguntaram:- Senhor, como devemos vestir-nos ?
- Vistam-se como os campos - respondeu o sábio.
Os jovens então subiram a uma colina e durante dias olharam para os campos.
Depois dirigiram-se à cidade, onde compraram tecidos de muitas cores e fios de muitas fibras.
Levando cestas carregadas, voltaram para junto do sábio.
Sob o seu olhar abriram os rolos de sedas,desdobraram as peças de damasco, e cortaram quadrados de veludo, e os emendaram com retângulos de cetim.
Aos poucos, foram recriando em longas vestes os campos arados, o vivo verde dos campos em primavera, o pintalgado da germinação.
E entremearam fios de ouro no amarelo dos trigais, fios de prata no alagado das chuvas, até chegarem ao branco brilhante da neve.

As vestes suntuosas estendiam-se como mantos.

O sábio nada disse.
Só um jovem pequenino não havia feito sua roupa.
Esperava que o algodão estivesse em flor, para colhê-lo.
E quando teve os tufos, os fiou.
E quando teve os fios, os teceu.
Depois vestiu a sua roupa branca e foi para o campo trabalhar.
Arou e plantou.
Muitas e muitas vezes sujou-se de terra.
E manchou-se do sumo das frutas e da seiva das plantas.
A roupa já não era branca, embora ele a lavasse no regato.
Plantou e colheu.
A roupa rasgou-se, o tecido puiu-se.
O jovem pequenino emendou os rasgões com fios de lã, costurou remendos onde o pano cedia.
E quando a neve veio, prendeu em sua roupa mangas mais grossas para se aquecer.
Agora a roupa do jovem pequeno era de tantos pedaços, que ninguém poderia dizer como havia começado.
E estando ele lá fora uma manhã, com os pés afundados na terra para receber a primavera, um pássaro o confundiu com o campo e veio pousar no seu ombro.
Ciscou de leve por entre os fios, sacudiu as penas.
Depois levantou a cabeça e começou a cantar.

Ao longe, o sábio que tudo olhava ... sorriu.

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