O tempo de Natal acelera a vida nas ruas e aquece o comércio.
Mesmo sabendo que nenhuma mercadoria anunciada, e até mesmo os votos de Feliz Natal realizam de fato o que prometem, somos envolvidos por um espetáculo contagiante.
Por outro lado, o vazio existencial e a busca do sentido da vida seguem nos desafiando.
A humanidade anseia pela felicidade, verdade, fraternidade e paz: um anseio universal somente alcançado à luz da revelação de Deus, num menino que nasce em Belém.
A celebração do Natal de Jesus tem por objetivo recordar a primeira vinda do Filho de Deus entre a humanidade e ao mesmo tempo nos tornar vigilantes à espera de sua segunda vinda, no final dos tempos.
Ante à perda do sentido da vida, temos no Natal do Senhor razões suficientes para aprofundar a nossa espiritualidade "enquanto força do Espírito que sustenta e faz novas todas as coisas" (cf. Ap 21, 5).
Especialistas afirmam que o vazio existencial do ser humano na sociedade contemporânea é acelerado pela pressão do consumismo, que valoriza e reconhece a pessoa pelo que ela tem, parece ter ou parece ser.
Passa-se então a forjar uma aparência de sucesso, fama, beleza, magreza, não importando o custo.
Isso está afetando profundamente as relações sociais e cotidianas da sociedade, famílias e comunidades.
Por outro lado, percebemos uma sede de espiritualidade, revelando a falta que ela faz.
As pessoas têm desejos profundos de viver em comunhão ou união com o divino.
Por influência da mesma sociedade de consumo, notamos também uma variedade de ofertas e propostas de produtos da fé, nas diversas manifestações religiosas que florescem por toda parte.
Nessa busca ávida pelo religioso, criam-se confusões: existem coisas úteis e coisas menos apropriadas.
Na nossa busca, deveríamos sempre nos voltar para Cristo.
Destacamos duas experiências na vida de Jesus, pilares que até hoje sustentam o cristianismo como caminho espiritual: uma experiência mística e outra política.
A mística é a experiência de sentir-se Filho de Deus, enviado entre a humanidade como Salvador e Messias.
Sendo Jesus da mesma humanidade que nós, porque é nosso irmão, essa consciência de ser Filho do Pai abre a possibilidade a cada um de nós de fazer a mesma experiência, sentindo-nos seus filhos e filhas queridos (cfr. 1Jo 3, 1).
Como seria diferente a humanidade se todos soubessem e fossem respeitados como filhos e filhas de Deus, nas diferenças, nas raças e nas culturas!
A segunda experiência de Jesus é de natureza político-religiosa.
Em sua pregação, Ele anunciou que o Reino de Deus está próximo e, de fato, já se encontra em nosso meio (Mc 1, 15).
O Reino é a presença ativa e transformadora de Deus no universo e em cada ser humano.
Jesus revela um Deus cheio de compaixão e misericórdia, que ama e cuida, cura e restabelece a vida.
Ele não se isola das pessoas, mas se aproxima de todos, especialmente dos rejeitados, até porque se não fizesse isso, a encarnação não teria sentido.
O mundo se desenvolveu de maneira extraordinária, e ao mesmo tempo não consegue nos tornar mais humanos.
A sociedade como um todo está perdendo o essencial, a sua alma e os valores que dão sentido à existência.
A espiritualidade existe justamente para recuperar a alma quando a perdemos, a partir de uma união profunda com Deus, viver a solidariedade, a justiça, a paz e a defesa da Criação integrados no seu conjunto com a mesma espiritualidade de Jesus.
Resgatar o verdadeiro espírito do Natal na chegada do menino-Deus nos ajuda a assumir um estilo de vida segundo o Espírito de Cristo, e a contrapor a sociedade do espetáculo e do consumo.
Jaime Carlos Patias